por Machado de Assis
Dois horizontes fecham nossa vida:
Um horizonte, - a saudade
Do que não há de voltar;
Outro horizonte, - a esperança
Dos tempos que hão de chegar:
No presente, - sempre escuro,
Vive a alma ambiciosa
Na ilusão voluptosa
Do passado e do futuro.
Os doces brincos da infância
Sob as asas maternais,
O vôo das andorinhas,
A onda viva e os rosais;
O gozo do amor, sonhado
Num olhar profundo e ardente,
Tal é na hora presente
O horizonte do passado.
Ou ambição da grandeza
Que no espírito calou,
Desejo de amor sincero
Que o coração não gozou;
Ou um viver calmo e puro
À alma convalescente,
Tal é na hora presente
O horizonte do futuro.
No breve correr dos dias
Sob o azul do céu, - tais são
Limites no mar da vida:
Saudade ou aspiração;
Ao nosso espírito ardente,
Na avidez do bem sonhado,
Nunca o presente é passado,
Nunca o futuro é presente.
Que cismas, homem?
Perdido
No mar das recordações,
Escuto um eco sentido
Das passadas ilusões.
Que buscas, homem?
Procuro,
Através da imensidade.
Ler a doce realidade
Das ilusões do futuro.
Dois horizontes fecham nossa vida.
Os Sete Samurais – 1954 (Resenha)
Há 6 meses
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